segunda-feira, 28 de abril de 2008

Só escreve quem vive

"Versos não são o que as pessoas imaginam: simples sentimentos... Eles são experiências. Para a construção de um simples verso, é preciso ver muitas cidades, homens e coisas, é preciso conhecer os animais, é preciso perceber como os pássaros voam e conhecer o movimento que uma flor abre pela manhã"
R.M.Rilke

Autonomia


Você já parou pra pensar

se é você quem constrói os momentos da sua vida

ou se são eles que te controem!?
(Foto: da primeira vez que vi o mar)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

leva-me, lava-me




alma solta




leve e louca




num vai e vem




de ondas que levam e trazem




o que de bom e ruim




um dia fizemos

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Você nunca conhece realmente as pessoas.

Delicatessen
Hilda Hilst

Você nunca conhece realmente as pessoas. O ser humano é mesmo o mais imprevisível dos animais. Das criaturas. Vá lá. Gosto de voltar a este tema. Outro dia apareceu uma moça aqui. Esguia, graciosa, pedindo que eu autografasse meu livro de poesia, "tá quentinho, comprei agora". Conversamos uns quinze minutos, era a hora do almoço, parecia tão meiga, convidei-a para almoçar, agradeceu muito, disse-me que eu era sua "ídala", mas ia almoçar com alguém e não podia perder esse almoço. Alguém especial?, perguntei. Respondeu nítida: "pé-de-porco". Não entendi. Como? "Adoro pé-de-porco, pé-de-boi também". Ahn... interessante, respondi. E ela se foi apressada no seu Fusquinha. Não sei por que não perguntei se ela gostava também de cu de leão. Enfim, fiquei pasma. Surpresas logo de manhã.

Olga, uma querida amiga passando alguns dias aqui conosco, me diz: pois você sabe que me trouxeram uma noite um pé-perna de porco, todo recheado de inverossímeis, como uma delicadeza para o jantar? Parecia uma bota. Do demo, naturalmente. E lendo uma entrevista com W. H. Auden, um inglês muito sofisticado, o entrevistador pergunta-lhe: "O que aconteceu com seus gatos?" Resposta: "Tivemos que matá-los, pois nossa governanta faleceu". Auden também gostava de miolo, língua, dobradinha, chouriços e achava que "bife" era uma coisa para as classes mais baixas, "de um mau gosto terrível", ele enfatiza. E um outro cara que eu conheci, todo tímido, parecia sempre um urso triste, também gostava de poesia... Uma tarde veio se despedir, ia morar em Minas... Perguntei: "E todos aqueles gatos de que você gostava tanto?" Resposta: "Tive de matá-los". "Mas por quê?!" Resposta: "Porque gatos gostam da casa e a dona que comprou minha casa não queria os gatos". "Você não podia soltá-los em algum lugar, tentar dar alguns?" Olhou-me aparvalhado: "Mas onde? Pra quem?" "E como você os matou?" "A pauladas", respondeu tranqüilo, como se tivesse dado uma morte feliz a todos eles. E por aí a gente pode ir, ao infinito.

Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro. E aquele lá de cima, o Incognoscível, em que centésima carreira de pó cintilante sua bela narina se encontrava quando teve a idéia de criar criaturas e juntá-las?
Oscar, traga os meus sais.

Texto extraído do jornal “Correio Popular”, de Campinas-SP, edição de 01/03/1993.

Frases

Abstinência.
A abstinência é um boa coisa, desde que praticada com moderação. (Anônimo)


Casamento.
O casamento é o preço que os homens pagam pelo sexo; o sexo é o preço que as mulheres pagam pelo casamento. (Anônimo)

não podemos abrir mão

de pelo menos um dia na semana pra acordar sem o despertador,
dias quentes ao ar livre,
farra no carnaval,
de abraçar quem a gente gosta,
aprender a cozinhar nem que seja apenas um prato (mas que se torne a especialidade)
sorvete de fruta no calor,
de dizer não,
deixar o orgulho de lado,
comer até ficar triste (de vez em quando!)
assistir ao show do cantor predileto,
de sermos tratados com educação,
sair da dieta no fim de semana,
cantar mesmo que desafinado,
dar e receber demonstrações de carinho,
chorar de rir,
chorar de dor,
andar de cabeça erguida,
de viver um grande amor,
ser autêntico,
comprar algo que dê vontade (mesmo que tenha que passar o resto do mês no aperto!),
de comemorar aniversários,
fazer exercícios,
de ter amigos de verdade,
de seguir instintos e intuições.